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Os três paradigmas da ciência: "ciência" antiga, ciência moderna e tecnociência

Autoria: Hans Severin | Miguel de Andrade e Silva

Nos finais dos anos ‘70 o filosofo belga Gilbert Hottois começou a popularizar o conceito da tecnociência, uma definição pela primeira vez utilizada pelo filósofo frances Gaston Bachelard em 1953.



Nesta apresentação vamos tentar mostrar a evolução dos pensamentos filósofos ocidentais começando com a filosofia grega até chegar à tecnociência de hoje.

Utilizamos como  base o capitulo “A importância da técnica e a tecnociência“ do livro de Hottois “O paradigma bioético. Uma ética para a tecnociência”  de 1992.

A “ciência” antiga

Pensamento Ocidental



O pensamento Grego já desprezava a técnica, o domínio pratico:


Situava no ápice a vida contemplativa ou teórica



Platão e Aristóteles propuseram que nas suas cidades ideais nenhum trabalhador manual pudesse ser cidadão.

A visão Grega do Universo atribui definitivamente à técnica um estatuto inferior.


Ao longo de toda a historia do Ocidente, o projecto da ciència, ou do saber, foi sempre confundido com um projecto teórico.

Teoria: do Grego θεωρία , é o conhecimento descritivo puramente racional.

O substantivo theoría significa acção de contemplar, olhar, examinar,
especular   contemplação + racional.



Neste sentido a ciência  ( Ciência: do latin Scientia, Conhecimento) é pura, cujo

objectivo é estranho ao da Tecnologia
(Tecnologia: do Grego τεχνη — "técnica, arte, ofício" e λογια — "estudo") ciência aplicada

A Ciência Moderna



Do século XV ao século XVII, desde o início da “Ciência Moderna”, dá-se uma mutação profunda da qual as nossas tecnociências atuais são a consequência longínqua. Essa mutação vai despertar o lado operativo (tecnomatémático) do projeto científico ocidental e arrancá-lo ao empreendimento logoteórico da contemplação e da linguagem natural.

O ideal da ciência antiga era constituir um corpo organizado logicamente que se apoiasse em definições (enunciando a essência dos seres e das coisas) e em princípios, procedendo, a seguir, dedutivamente.

A “ciência” antiga (até Sec. XV / XVII)

A Ciência Moderna

As duas características principais da Ciência moderna são a matematização e a experimentação.

 

E ganhe um objectivo:



Para R. Descartes, ela vai tornar-nos os «senhores e possuidores da Natureza». Para F. Bacon trata-se de «dominar a Natureza pela arte».

A finalidade da actividade técnica é o domínio sobre as coisas, cada vez mais acrescido.



A Natureza essencialmente operativa da nova ciência exprime-se em especial pelo facto  de o novo sistema do Mundo (o heliocentrismo Coperniciano por oposição ao Geocentrismo Ptolomaico) se impor, antes de mais nada, por permitir cálculos mais simples e prognósticos mais exactos dos movimentos dos Planetas, não por ser intuitivamente mais evidente (antes pelo contrário!).



Galileu, que continua essa revolução, é simultaneamente matemático e Engenheiro do duque de Florença.

Técnica e matemática estão na antecâmara silenciosa da nova ciência e ombreiam para suprimir a influência do saber logoteórico, especulativo e simbólico, o núcleo duro da ciência moderna é tecnomatematico, ou seja operativo.

 

O primado tradicional da teoria (até Sec. XV / XVII)

A ciência moderna (até início Sec. XX)



A tecnociência contemporânea

Hoje em dia, os polos teórico e técnico da atividade cientifica estão indissoluvelmente emaranhados.

Que se manifesta tanto como uma tecnicização da ciência, como com  uma cientificização da técnica.

Toda a investigação contemporânea é feita de um vaivém entre o conceito e a aplicação, entre a teoria e a prática, ou, para utilizar a linguagem de Bachelard, entre «o espírito trabalhador» e a «matéria trabalhada».

O que não significa que tenha desaparecido a distinção entre Investigação fundamental e investigação «finalizada».

Quer apenas dizer que essa distinção já não se faz entre uma actividade científica «pura», «teórica», por um lado, e, por outro,, as ciências aplicadas. Práticas ou técnicas. Fundamental ou «finalizada» a pesquisa é tecnocientífica.



Por exemplo, não existe a mínima diferença entre um laboratório de pesquisa agregado a uma universidade, onde se procura executar, em principio, a «pesquisa pura», e um laboratório de pesquisa agregado a uma grande empresa, onde se supõe que as pessoas se preocupam, antes de mais nada com as aplicações industriais possíveis.



Assim, a antiga relação teórica de contemplação discursiva cedeu o lugar dominante a uma relação essencialmente ativa de manipulação, de reconstrução e de desconstrução da realidade, que põe a representação teórica ao serviço da atividade manipuladora.

Enquanto a ciência teórica se podia afirmar pura e inocente a tecnociência, porque é essencialmente actividade modificadora e produtora no mundo, nunca está inocente por completo. Como praxis é eticamente problemática.



Hoje em dia levantam-se problemas éticos ao nível da investigação dita fundamental porque o projecto do saber é fazer e poder. Isso é tão verdade na pesquisa fundamental em física como na pesquisa em genética molecular, por exemplo.

 

 

Perguntas...

  • Quais são os três paradigmas da ciência e as suas características?

  • Identifique alguns dos principais protagonistas de cada um dos paradigmas científicos.

  • Qual é um dos problema que se levanta no paradigma da tecnociência ?

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