Docente: Doutora Luísa Orvalho
Portefólio da Unidade Curricular
História da Ciência e das Técnicas | 2012/13
Século XIX - O Século das Ciências
Autoria: Jorge Vieira | Nuno Santos
Ciência moderna/Experimentalismo
A ciência desenvolveu-se extraordinariamente no século XIX, mas, criada noutros lados, em Portugal foi chegando com atraso, por vezes mesmo com grande atraso. No século XIX assistiu-se à segunda vaga da Revolução Industrial, não só com o desenvolvimento das máquinas térmicas (é o século da termodinâmica) mas também e principalmente com o desenvolvimento das máquinas elétricas e das telecomunicações (é o século do eletromagnetismo). Portugal, se tinha acompanhado, graças à Reforma Pombalina, o triunfo da física de Galileu e Newton e o início da química e da história natural, foi ficando para trás na ciência enquanto importava a tecnologia. Foi para nós um século conturbado, em primeiro lugar com as invasões napoleónicas, depois com a independência do Brasil, a guerra civil e ainda com as muitas vicissitudes da monarquia constitucional.
Academia das Ciências de Lisboa
A Academia das Ciências de Lisboa foi criada em 1779 para promover o desenvolvimento científico e cultural do país.
Nome: José Francisco Correia da Serra (1750-1823)
Profissão: Cientista
Naturalidade: Serpa
Cientista de renome, o Abade Correia da Serra deu importante contributo à investigação científica em áreas como a Botânica e a Geologia. Fundou, com o Duque de Lafões, a Academia das Ciências de Lisboa. Viveu em Londres, Paris e Estados Unidos. Gozando de grande prestígio intelectual, conviveu com os maiores cientistas da época. Publicou valiosos trabalhos nas mais conceituadas revistas e teve grande influência na política norte-americana como ministro plenipotenciário de Portugal, a partir de 1816. O Abade Correia da Serra foi uma figura nacional que marcou a sua época. Proucurou integrar Portugal no contexto científico e cultural europeu.
A Revolução Francesa foi responsável pelas grandes mudanças sociais e políticas ocorridas em Portugal nos finais do século XVIII, tendo sido importante no desenvolvimento da sociedade portuguesa, provocando transformações a vários níveis.
Na Universidade de Coimbra fizeram-se nessa época sentir algumas das mudanças que ocorreram na Europa no século XIX, onde a investigação científica era vista como complementar da docência.
Assim, na primeira metade do século XIX, ocorreram na Universidade de Coimbra reformas curriculares da iniciativa do claustro académico, procurando um melhor ajustamento ao desenvolvimento científico na Europa, que posteriormente seriam também influenciadas pela Revolução Liberal de 1830.
De facto, foram as invasões francesas que levaram ao exílio do rei D. João VI, o qual deu início ao processo da independência do Brasil, tendo sido finalmente concluído pelo seu filho D. Pedro, em 1822. Aquando as invasões, diversos estudantes alistaram-se no batalhão Académico para combater os invasores, o que provocou alterações no funcionamento da Universidade de Coimbra. Em 1810-1811, com a Universidade encerrada, o Laboratório Chimico, no papel do seu Director Tomé Rodrigues Sobral, foi um dos maiores impulsionadores na defesa do território, por se ter dedicado ao fabrico de grandes quantidades de pólvora.
1811 – Termina as invasões
1820 - Revolução Liberal
1825 - Fundação das Escolas Régias de Cirurgia de Lisboa e Porto.
Depois de terminada a Revolução Liberal, sentiu-se necessidade de colmatar a falha que havia no Ensino das ciências em Lisboa e no Porto, criando-se para tal, a Escola Politécnica de Lisboa e a Academia Politécnica do Porto
Principais polos universitários
ESCOLA POLITECNICA DE LISBOA
UNIVERSIDADE DE COMBRA
ACADEMIA POLITECNICA DO PORTO
Tomé Rodrigues Sobral, diretor laboratório "Chimico" de Coimbra
No Chimico foram desenvolvidas acções em prol da saúde pública. Em 1809 a actividade foi orientada para debelar um surto de peste. Com esse objectivo, foram produzidos esterilizadores de cloro ácido muriático oxigenado que depois foram distribuídos gratuitamente por casas particulares, hospitais, cadeias e até ruas.
Outro professor de Química de Coimbra que se distinguiu sobretudo pelos seus estudos sobre a composição da água foi Manuel José Barjona.
A Escola Politécnica de Lisboa no âmbito de um processo de reforma do ensino superior e militar. Tinha como objetivo, ministrar um ensino preparatório científico aos candidatos a oficiais do Exército e da Marinha.
Guilherme Dias Pegado, responsável pelo aparecimento do primeiro observatório meteorológico português. Formado pela mesma instituição, encontra-se Joaquim Fradesso da Silveira que além de desenvolver estudos na área de meteorologia, foi responsável pela adopção do sistema métrico em Portugal. Entre as obras de Silveira salienta-se o Compêndio do novo systema métrico decimal (1856) e os Mappas das medidas do novo systema legal (1868). Outro físico que também se destaca nesta instituição é João de Almeida Lima, um dos grandes fomentadores da criação de uma instituição para a promoção da ciência em Portugal, com a publicação da Justificação da proposta para a eleição dum Conselho Nacional de Investigação Científica (1920). Os processos fotográficos e tipográficos também não foram esquecidos por esta instituição, tendo o químico José Bettencourt Rodrigues publicado várias cartas corográficas e topográficas, utilizando métodos como a heliogravura e a fotolitografia, as quais foram importantes para o estudo do território.
Tinha como principais objetivos formar engenheiros, oficiais da marinha, pilotos, comerciantes, agricultores, diretores de fábrica e artistas. Um dos colaboradores desta instituição que se destacou foi José Vitorino Damásio, com um papel relevante na introdução do telégrafo em Portugal. 1855 - Inauguração do 1º telégrafo elétrico do país.
Francisco Gomes Teixeira foi outro dos nomes que se destacou pela sua dedicação ao estudo das ciências matemática e astronómicas e à criação de condições para a publicação das obras dos investigadores portugueses, tendo fundado o Jornal de ciências matemáticas e astronómicas e publicados diversos trabalhos, entre os quais Sobre o desenvolvimento das funções em série (1895) e Tratado de las curvas especiales notables, tanto planas como alabeadas (1897). A invenção da televisão teve a contribuição do professor Adriano Paiva que era da opinião que a evolução do telefone de Bell seria aplicar uma tecnologia similar, capaz de converter imagens em impulsos elétricos a transmitir por fios telegráficos. Além deste, outros grandes inventores se destacaram no final do século XIX: António Plácido da Costa, pelas suas inovações técnicas em oftalmologia e o Padre Manuel António Gomes que desenvolveu um forno solar.
Em 1836 surgiram as Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e Porto, sucessoras das Régias Escolas e antecessoras das atuais Faculdades de Medicina de Lisboa e Porto, fundadas em 1911, que contribuíram para o desenvolvimento das técnicas cirúrgicas nos hospitais portugueses já que, até finais do século XVIII, as operações quase se limitavam à cirurgia dos membros e tratamento de feridas. Nas novas escolas destacaram-se nas técnicas operatórias, médicos como Carlos May Figueira, em Lisboa, e António Bernardino de Almeida, no Porto.
Em Coimbra, a partir de 1850 assistiu-se a um desenvolvimento do ensino tanto das ciências físico-químicas como das ciências médicas.
As instalações da Faculdade de Medicina conheceram melhorias no início da segunda metade do século XIX: O edifício do Colégio das Artes, cedido à Universidade em 1853, foi transformado em hospital universitário, que aí permaneceu até 1987.
Os estudos médicos sofreram novo impulso entre 1863 e 1872 graças principalmente a viagens científicas realizadas a centros universitários internacionais.
No final do século XIX, as reorganizações do ensino das Ciências Físico-químicas, para além de se procurarem adaptar aos desenvolvimentos científicos da época, tinham em especial atenção os estudantes que pretendiam seguir Medicina.
Efetivamente, em Fevereiro de 1896, pouco mais de um mês após o anúncio da descoberta feita pelo alemão Rõntgen, foram realizadas em Coimbra, por Henrique Teixeira Bastos, autor da dissertação A Teoria Eletromagnética da Luz (1885) os primeiros ensaios para aplicação dos raios X no diagnóstico clínico.
As Ciências da Vida, em Portugal, são influenciadas por Charles Darwin cuja obra Origem das Espécies, publicada em 1859, terá sido baseada numa viagem que incluiu Cabo Verde e Açores, sendo divulgada em Portugal anos mais tarde no âmbito da tese de doutoramento de um botânico da Universidade de Coimbra, Júlio Henriques
A obra de Darwin é traduzida para português em 1910, sendo divulgada apenas em 1913. Arruda Furtado, residente na Ilha de S. Miguel correspondeu-se com Darwin tendo desenvolvido estudos de malacologia (ramo da biologia que estuda os moluscos e inclui a taxonomia, a fisiologia e a ecologia destes animais) nos Açores sendo notável a transposição do natural isolamento dos Açores que não ter constituiu uma barreira ao avanço científico. O Darwinismo é discutido e Portugal no final do sec XIX, bem como a sua aplicação à história humana, sendo defendido por figuras relevantes como Eça de Queiroz, Antero Quental, Ramalho Ortigão e Oliveira Martins, mas apenas a partir do seculo XX a genética começaria a ser desenvolvida em Portugal após publicação de um artigo relativo às leis de Mendel em 1904.
Perguntas...
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1ª De que forma as Academias de Lisboa e Porto, no século XIX influenciaram o conhecimento científico?
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2ª Quais foram as principais áreas de desenvolvimento tecnológico e científico que as invasões francesas, no século XIX, tiveram em Portugal?
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3ª Que impacto teve a passagem de Charles Darwin, em setembro de 1836, por Portugal?
Apresente a justificação.